EM CAMPO

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terça-feira, 3 de maio de 2011


Homenagem a DERLI CASALI
líder nacional do MPA que faleceu neste final de semana


Vítima de um acidente de trânsito na BR 242, no Estado da Bahia, morreu o militante social Derli Casali, integrante do Movimento dos Pequenos Agricultores, uma organização popular ligada a via campesina.

Derli Casali esteve aqui no RN em Campo Grande, a convite do PMA de CG com Fábio Fernandes e Francisco Antonio, há quatro anos, quando foi realizado o Encontro Estadual do MPA em Campo Grande.

Em memória a Derli Casali, reproduzimos uma poesia deste a seguir:

AI DE VÓS

Ai de vós, Aracruz Celulose, que expulsastes indígenas e quilombolas de seus territórios, destruindo a biodiversidade e transformando o estado do Espírito Santo num deserto verde.

Ai de vós que enganais camponeses e camponesas com seus discursos mentirosos, afirmando ser a salvadora da Pátria.

Ai de vós, governantes, ministros e secretários de estado que se dão ao luxo de defender os grandes projetos que produzem a morte dos campos e dos povos que ali habitam.

Ai de vós que se apropriam dos impostos do povo e redimensionam segundo os interesses dos que se dizem donos do capital.

Ai de vós magistrados que fazem das leis meios para defender os que se enriqueceram às custas do povo

Nestes dias, os deuses de todas as ancestralidades, presentes nos memoriais de todas as lutas e de todas as resistências, vivos nas vozes dos inocentes que clamam por terra, caça, pesca e frutos, estão unidos e louvando a cada pé de eucalipto decepado.

Nestes dias, todos os espíritos ancestrais estão abrindo picada adentro ao deserto verde e convocando todos os povos para o dia do grande combate.

Nestes dias todos e todas que se afirmam realmente brasileiros e estrangeiros que nos apóiam estão dizendo em voz uníssona: fora, aracruz, aqui não é seu lugar.

Nosso projeto é outro: não fala em concentração de terra, mas terra para todos que a querem para produzir comida; não fala em apropriação dos frutos do trabalho por parte de alguns, mas solidariedade, partilha e socialismo; não fala em monocultura de eucalipto, de soja, de algodão, de café, mas em biodiversidade.

Nosso projeto fala em leis, em direitos, mas em dignidade, autonomia, respeito às diferenças dos povos, com seus diversos modos de vida, de produção de saberes, de afirmação de identidades.

Neste nosso projeto só cabe o povo que se organiza, que não se deixa se revestir pelos sentimentos das elites, ou seja, deste mundo feito com tantos defeitos, sem cheiro de vida.

Nosso mundo é feito de cheiro de mato, de água correndo, de milho espigando, de feijão florando, de arrozal cacheando, de casa humilde cheia de gente assanhada ao som da sanfona e da viola.

O mundo que estamos fazendo vai destruir todos e todas que se negam abraçar a vida e o horizonte da liberdade; enfim, não cabe quem sega dialogar com o mundo e sentir que o mundo não cabe dentro da lógica do capitalismo.

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