EM CAMPO

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terça-feira, 14 de agosto de 2012


CONVITE



Banco é serviço público. Não podemos ter 40% dos cidadãos e cidadãs sem conta bancária"
Publicado em 13-Ago-2012
 Na manhã desta segunda-feira (13.8), quem circulou no Centro da capital paulista pôde acompanhar a marcha dos bancários que começou na Av. Paulista rumo à Praça do Patriarca. Hoje eles promovem, em todo o país, o Dia Nacional de Luta pelo Emprego. E protestam, com toda a razão, contra a onda de demissões no setor que caminha, obviamente, na contramão dos esforços do governo federal em seu combate contra os reflexos, aqui, da crise financeira mundial.


Nos últimos quatro anos, a fusão que deu origem ao Itaú Unibanco em 2008 – hoje, o maior banco privado do país - levou à demissão de 15.941 trabalhadores. Somente no ano passado, 9 mil foram dispensados pela instituição financeira. E mais: entre março e junho deste ano, já somam 3.777 as demissões. Para contar sobre este Dia Nacional de Luta e o que está em jogo no país, conversamos com Juvandia Moreira, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. Confiram a entrevista:


Onda de demissões

“No primeiro semestre deste ano, o Brasil gerou cerca de 1 milhão de novos empregos. Mas, a contribuição dos bancos neste número foi de apenas 0,22% - ínfima para o setor que conta com a maior rentabilidade no país. Vejam que no primeiro semestre de 2011, o setor bancário gerou quase 12 mil novos postos de trabalho; mas no primeiro semestre deste ano, foram 2.350 postos. Houve uma redução de 80% em 2012. Agora, se a gente tirar as contratações realizadas pela Caixa Econômica Federal, nós ficamos no negativo. O principal responsável por essa situação é o Itaú Unibanco - o que mais cortou postos de trabalho no período.

Juvandia MoreiraNós conversamos com o ministro Brizola Neto (Trabalho) sobre isso. A rotatividade do Itaú é mais alta do que a dos demais bancos. Para reduzir custos, esta instituição financeira cortou postos de trabalho no atendimento e aumentou o número dos correspondentes bancários. Nós tivemos 9% de reajuste durante a campanha salarial no ano passado, mas o Itaú teve apenas 4,9% de reajuste em sua folha de pagamento. A resposta do Itaú é redução dos custos, sem nenhum compromisso com a geração de empregos, em um momento em que ela é fundamental. Está mais do que claro que o foco do Itaú é mesmo só o lucro, a despeito do Brasil, de seus trabalhadores e de toda a sociedade."


“Ajustes”

"O Bradesco teve grande número de contratações no ano passado. Mas, nos últimos três meses, Bradesco, Santander e Itaú eliminaram 4.086 postos de trabalho juntos. Desse total, apenas o Itaú eliminou 3.777 vagas. Nós perguntamos, durante o encontro que tivemos com membros da FEBRABAN (Federação dos Bancos), se isso era uma tendência. Eles assumiram que foram feitos “ajustes”. Os bancos não querem negociar emprego. Eles dizem que o setor está gerando novos postos de trabalho. Agora, se pegarmos os dados, vamos ver que em dezembro havia 506 mil postos e que neste ano são 509 mil. Quem fez a diferença nisso? Foi a CEF. Eles dizem que o “setor” está gerando quando na verdade não é o “setor”, é a Caixa.


Até o Banco do Brasil fechou 406 postos, por conta de apostadorias etc., por exemplo, que eles não repuseram. Quem contratou foi a Caixa – e ela contrata por meio de concursos. Nós fizemos um acordo com eles para a contratação de mais 5 mil funcionários, além do que já tinha. A ideia é ampliarmos para quase 10 mil o número de bancários, o que é fundamental porque o movimento na Caixa cresceu muito nos últimos anos. Foi uma política acertada do governo."


Dia Nacional de Luta

 "A FEBRABAN assumiu que os bancos estão fazendo ajustes. Agora, o lucro continua altíssimo. No balanço semestral desses três bancos você tem R$ 16 bi de lucro líquido – repito, líquido. Quase 20% de rentabilidade, altíssima, que é o retorno sobre o patrimônio líquido. A indústria deve estar com 9% de rentabilidade. Com esse resultado, com todo o lucro e a demanda que eles têm é absurdo não contratar. Mesmo porque a população continua enfrentando fila nos bancos. Falta muita responsabilidade social aí.


Além disso, nossas bandeiras têm a ver com a sociedade: nós apoiamos a redução dos spreads bancários e apoiamos o governo nesta empreitada. Nós, também, defendemos a universalização do atendimento bancário. Hoje, quase 40% da população não tem conta em bancos. O banco é uma concessão, um serviço público, tem obrigatoriamente de atender todo mundo, contratar gente e não dispor só dos correspondentes bancários. Há 2 mil municípios sem agências em nosso país. Na verdade, eles estão utilizando os correspondentes para aumentar o lucro e reduzir os custos. Jogam os clientes de baixa renda para serem atendidos nos caixas de supermercado, nas lojas etc. Os bancos não querem clientes de baixa renda dentro das agências.


É por isso que hoje nós tiramos um Dia Nacional de Luta pelo Emprego. Precisamos mostrar à sociedade o que está acontecendo para que eles sejam cobrados. Precisamos expor a imagem desses bancos porque nas propagandas eles se dizem em defesa do país, que são excelentes empresas para se trabalhar e que têm compromisso social. Isso não é verdade. Nós teremos uma negociação nesta semana, quarta e quinta. Queremos resolver essa campanha na mesa de negociação com respeito à dignidade do trabalhador brasileiro."
(Fotos: Paulo Pepe/Seeb-SP)